A ressurreição

 
Por F. Gfeller

Fonte:

Leituras Cristãs
Volume XXXIII

 
"O nosso Deus é o Deus da salvação; e a Jehovah, o Senhor, pertencem as saídas da morte" (Salmo 68:20). Embora a doutrina da Ressurreição não faça parte da revelação dada sob o Antigo Testamento, esta verdade já nos aparece ali mencionada. Em diversas passagens se deixa entrever o seu sentido, e este era compreendido pela fé, pelo coração dos fiéis. O próprio Job o percebe quando diz: "E, depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, o verão" (Job 19:26-27).

a). As Primícias, Cristo

Na Sagrada Escritura mencionam-se vários casos de ressurreição, e todos dizem respeito a pessoas que foram restituídas à vida por algum tempo. Estes casos não foram mais do que uma demonstração do poder de vida que existe em Deus. Mas sair da morte para não mais voltar a ela e não ficar sujeito às contingências da existência terrestre é que i a verdadeira ressurreição. Ninguém participou dela antes do nosso Bendito Salvador. Foi preciso "que em tudo tenha a preeminência" (Colossenses 1:18). Pela Sua morte triunfou sobre o príncipe da morte, e por ela sitiou essa fortaleza inexpugnável, apoderando-se das suas chaves.

"Eu sou o primeiro e o último; e o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. E tenho as chaves da morte e do inferno" (Apocalipse 1:17-18). A ressurreição do nosso Bendito Salvador é a demonstração clara da sua vitória sobre Satanás e sobre o poder do pecado. Não é de estranhar, pois, que o Diabo faça todos os esforços possíveis para negar esta verdade. Mas ela é a chave principal do Evangelho, assim como o seu fundamento.

Foram-nos dadas numerosas e irrefutáveis provas testificando a ressurreição de Jesus: O túmulo vazio, o testemunho das mulheres que ali acorreram, e dos apóstolos, que viram o seu Mestre em várias ocasiões, o próprio testemunho dos guardas, que foram comprados por grande preço, para que divulgassem uma grosseira mentira. Todas estas provas concordam, afirmando, com a Palavra de Deus:"Mas, agora, Cristo ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que dormem" (1 Corintios 15:20).


b). Duas Ressurreições

"Há-de haver ressurreição de mortos, assim dos justos como dos injustos" (Actos 24:15). "Vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E, os que fizeram o bem, sairão para a ressurreição da vida; e, os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação" (João 5:28-29). Já Daniel, no capítulo 12 do seu livro, declarara: "E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno" (Daniel 12:2). O livro de Apocalipse é mais preciso neste caso, dizendo: "Viveram e reinaram com Cristo durante mil anos; mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabassem. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre ele não tem poder a segunda morte" (Apocalipse 20:4-6).

O pensamento de uma ressurreição geral, seguida de uma selecção que ponha os justos de um lado e os condenados do outro, resulta de uma falsa interpretação dada aos versículos 31 a 46 de Mateus 25. Nesta passagem trata-se do Julgamento separador que inaugurará o estabelecimento do Reino de Cristo. As nações do mundo serão julgadas de harmonia com o acolhimento que tiverem dispensado aos mensageiros do Rei. Enquanto que, no Juízo final, apenas os mortos, regressados à existência, após uma tenebrosa paragem, permanecerão diante do trono para serem julgados conforme as suas obras. Notemos a expressão "mortos", apesar de terem tomado parte na ressurreição do Juízo. É que, fora de Cristo, tudo é morte!


c). A Ressurreição para Vida

"Os que são de Cristo, na Sua vinda" (l. Coríntios 15:23) designa a todos os que tiverem beneficiado da obra que Jesus consumou na Cruz, a qual inclui também os crentes do Antigo Testamento, visto serem salvos em virtude do sangue do Calvário, cujo valor lhes foi imputado por antecipação. A sua ressurreição os conduzirá à perfeição, de acordo com a expressão do último versículo de Hebreus 11. Durante toda a sua vida alimentaram esta esperança, pois tinham a certeza de que ela se concretizaria (ver Job 19, já citado, e David, no Salmo 17:15).

A fé na ressurreição era, porém, acompanhada de muita ignorância, porque a Revelação ainda não tinha sido dada. Marta, após a morte de seu irmão Lázaro, quando o Senhor diz: "Teu irmão há-de ressuscitar", responde: " Eu sei que há-de ressuscitar na Ressurreição do último dia", expressando desta maneira a ideia geral que, naquele tempo, era admitida pelos Judeus crentes. Então Jesus revela-lhe algo que ainda hoje reconforta os que estão de luto: "Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, não morrerá eternamente" (João 11:23-26).

No dia em que o Senhor Jesus vier buscar os Seus, chamará os que dormem nos sepulcros, como outrora chamou a Lázaro: "Clamou com grande voz: Lázaro, sal para fora. E o defunto saiu" (João 11:43-44). Este acontecimento extraordinário terá lugar ao mesmo tempo que a transmutação dos vivos que, à imagem de Enoque, serão arrebatados sem passarem pela morte: "Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados" (1 Corintios 15:51-52). Os Cristãos de Tessalónica esperavam o Senhor (1 aos Tessalonicenses 1:10). Temiam pelos seus irmãos na fé que estavam mortos, pois criam que estes faltariam à chamada. O apóstolo tranquiliza-os com estas magníficas palavras: "Isto vos declaramos, pela palavra do Senhor: Nós, os que ficarmos vivos, para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem; porque o mesmo Senhor descerá do Céu, com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras" (lª aos Tessalonicenses 4:15-18).

O período que se seguir ao arrebatamento da Igreja e que precederá o Reino Universal de Cristo será um período terrível. No seu decurso, cuja duração será de sete anos, os Juízos divinos abater-se-ão sobre um mundo em que a impiedade irá de vento em popa. O poder oculto do Anticristo cairá atrozmente sobre todos aqueles que não se submeterem à sua diabólica autoridade. Os mártires dessa época serão numerosos, como lemos em Apocalipse 20:4-6, já referido. Após este período e durante o milénio, nenhum crente passará pela morte, porque, a partir de então, somente os malfeitores serão atingidos pelo Julgamento que se exercerá dia a dia sob o Governo do Rei dos reis e Senhor dos senhores.


d). A Ressurreição para Condenação

É mencionada pelo Senhor Jesus em João 5:29 e pelo apóstolo Paulo em Actos 24:15.
A ressurreição de condenação terá lugar depois da dissolução de todas as coisas criadas, antes da introdução dos novos céus e da nova Terra.

O texto de Apocalipse 20:11-15 descreve-nos esta cena tão solene. De onde quer que o corpo de um incrédulo tenha sido posto, ainda que as suas cinzas tenham sido dispersas, ressurgirá da morte para comparecer perante Aquele "que por Deus foi constituído Juiz dos vivos e dos mortos" (Actos 10:42). Então toda a boca ficará emudecida, quando a vida de cada um for posta em evidência e todos forem julgados segundo as suas obras.

Mas o Juiz de então será Aquele que hoje é apresentado como Salvador; Aquele cujo amor pelos pecadores O levou até à morte - e morte de Cruz! Ele é o único que pode salvar-nos da morte eterna, porque só Ele pode sofrer o Juízo em lugar dos culpados. Que ninguém tenha receio de se confiar a Ele nem de crer na Sua Palavra! "Na verdade, na verdade vos digo que, quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida" (João 5:24).


e) Jesus é a Ressurreição e a Vida

Quando falamos de vida, o nosso pensamento dirige-se até Àquele que é o Autor dela - o Deus Criador. Toda a forma de vida sobre a Terra saiu das mãos do Criador, e o Evangelho segundo 5. João diz-nos que Aquele, que ali é chamado "o Verbo", foi o Autor de todas as coisas criadas. E o Filho é Jesus, o Amado do Pai. A confirmação desta verdade encontra-se em João 1:3, em Colossenses 1:16 e em Hebreus 1:2 e 10. A preeminência do Filho sobre a Criação é estabelecida pela expressão "Primogénito de toda a Criação" que encontramos no verso 15 do 1.0 capítulo da Epístola aos Colossenses. Neste mesmo capítulo de Colossenses, no verso 18, lemos que Cristo é"o primogénito de entre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência".

Pela sua própria ressurreição, Jesus deu início à nova Criação na qual os crentes são introduzidos pela fé: "Se alguém está em Cristo, nova criatura é" (2 Coríntios 5:17). Esta nova Criação, de ordem espiritual, não está submetida às contingências da matéria. A vida que a caracteriza tem a sua fonte de força em Jesus ressuscitado e não termina com a morte do corpo. Unido ao Cristo vivo, o crente espera o seu Salvador, mas deve passar pela morte do corpo. Sabe que está ausente do corpo, mas presente com o Senhor; todavia, se Jesus cumprir a Sua promessa "certamente cedo venho" antes que isso ocorra, então esse crente não verá a morte. A confiança que temos a este respeito está fundada sobre o próprio Senhor Jesus, conforme Ele mesmo disse: "Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá" (João 11:25-26).

Quando Jesus ressuscitou, a morte foi vencida, mas esta vitória não terá um efeito pleno senão quando os corpos dos remidos pelo Senhor ressuscitarem também, como lemos: "Então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó morte, a tua vitória?" (l Coríntios 15:54-55). Quando o nosso Bendito Salvador Jesus Cristo veio à Terra, pela Sua obra "aboliu a morte, e trouxe à luz a vida e a imortalidade pelo Evangelho" (2 Timóteo 1:10). Os efeitos da morte sobre o crente são apenas parciais e provisórios. Somente o corpo é submetido, mas ressuscitará aquando da vinda do Senhor.

Sim, Jesus é a ressurreição e a vida. Tudo está n'Ele, tudo assenta sobre Ele, sobre a Sua obra consumada no Gólgota, sobre a Sua morte e ressurreição. Da mesma maneira que não teria havido vida sem o Criador, também só haveria morte sem a obra do Redentor. "Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que, havendo por ele feito a paz, pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus" (Colossenses 1:19-20).

Na glória celestial, o coro dos remidos, dos anjos e da Criação inteira dará glória e honra ao Cordeiro que foi imolado, o qual estará assentado no trono, concentrando sobre Si todos os olhares e todos os corações (ver Apocalipse 5:6-14).

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