A Contribuição

 
Por José Carlos Jacintho de Campos

Fonte:

In Vigiai e Orai n.º 85
Publicado com autorização

 
Ao encerrar a sua primeira epístola aos coríntios, o apóstolo Paulo determinou àquela igreja local, como já tinha feito às igrejas da Galácia, que, no primeiro dia da semana, cada cristão colocasse à parte as suas dádivas ao Senhor , as quais seriam levadas aos santos em Jerusalém (1 Co 16:1-3).

Por que estaria ele orientando para que essa colecta ocorresse no primeiro dia da semana? A resposta é simples! Aos domingos, a igreja primitiva se reunia para partir o pão (At 20.7), e, para Paulo, as dádivas enviadas pela igreja chegavam a ele como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus (Fp 4.18), ou seja, Paulo está afirmando que as nossas ofertas ao Senhor fazem parte do nosso louvor. Por isso ele deixara determinado que elas fossem doadas aos domingos, tendo em vista que nesse dia a igreja se reunia para louvar ao Senhor através do memorial do Partir do Pão.

Neste mesmo sentido, o escritor aos hebreus exortou-nos a que, “por meio de Jesus, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome”, deixando claro também que, juntamente com o louvor dos nossos lábios , “não devemos nos esquecer de fazer o bem e de repartir com os outros, porque com tais sacrifícios Deus se agrada” (Hb 13.15-16).

Portanto, as nossas dádivas devem fazer parte do nosso “sacrifício”, do nosso culto de louvor e adoração ao nosso Senhor.

Há que se notar algo extraordinariamente significativo no Novo Testamento: em nenhum momento é determinada à igreja qualquer forma legalista de ofertar ao Senhor, a exemplo do que ocorria com Israel através dos dízimos que eram ofertados no Templo em Jerusalém. Para a igreja, não há dízimos, mas dádivas; para a igreja não há a escravidão da lei, mas a liberdade da graça; para a igreja não há limites percentuais, mas liberalidade e generosidade dos corações. Portanto, não façamos como os insensatos gálatas, colocando-nos sob os preceitos da lei, pois “para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permaneçamos, pois, firmes e não nos submetamos de novo ao jugo de escravidão” (Gl 5.1).

As igrejas denominacionais, bem como alguns legalistas entre nós, esforçam-se em colocar sobre os cristãos o antigo jugo da lei, chegando até a distorcer as Sagradas Escrituras alegando que o Senhor Jesus Cristo e o escritor aos hebreus mantiveram a obrigatoriedade do dízimo para a igreja. Texto fora do contexto é pretexto. Em Mateus 23.23 e Lucas 11.42, duas das passagens por eles invocadas, o dízimo é citado em meio às severas censuras e advertências que o Senhor fazia à hipocrisia dos escribas e fariseus. Em nenhum momento o Senhor Jesus estabeleceu a prática do dízimo para a igreja. A outra citação que sempre fazem está em Lucas 18.12, na parábola do fariseu e do pu-blicano, cujo ensino não diz respeito à obrigatoriedade do dízimo, mas ao pecado da soberba e da exaltação. Quanto às referências ao dízimo, no capítulo 7 de Hebreus, nada têm elas a ver com a contribuição na igreja, são apenas um comentário da prática então vigente, cujo único objetivo é provar a superioridade de Cristo, jamais ensinar à igreja o pagamento compulsório do dízimo.

Quando o Senhor falou em dar, Ele não Se limitou à décima parte de alguma coisa, mas ao todo. No diálogo mantido entre o Senhor e o jovem rico, que no seu legalismo acreditava estar cumprindo todos os preceitos da Lei, o Senhor lhe disse: “Uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos céus; depois vem, e segue-me (Lc 18.22). O Senhor Jesus não disse ao jovem que doasse dez por cento dos seus bens e o seguisse, mas que tivesse o desprendimento de entregar tudo.

Em outra oportunidade, estando o Senhor no templo, assentado defronte ao cofre das ofertas, observava a multidão a colocar dinheiro no cofre e notou que muitos ricos punham muito, mas uma viúva pobre depositou duas pequenas moedas, no valor de um quadrante, a moeda romana de menor valor. O Senhor exaltou a atitude daquela senhora: “Chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram os ofertantes, porque eles ofertaram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento (Mc. 12.41-44). Jesus contempla o todo, não, a parte, porque Ele veio para servir e dar, e Ele não Se deu parcialmente, mas deu-Se por completo, totalmente, pois Ele deu a Sua própria vida em resgate de muitos (Mt 20.28).

Diante destes factos, conclui-se que a igreja não está limitada aos percentuais da antiga dispensação, mas beneficiada pela espontaneidade dos corações dispostos a entregar tudo ao Senhor, mesmo porque o dízimo do passado dizia respeito ao serviço do templo em Jerusalém, ao passo que as actuais dádivas do povo de Deus têm em vista todas as necessidades da obra de Deus.

Neste assunto de contribuição dos cristãos, há que se acentuar que a graça é, em tudo, maior que a lei (Mt. 5.21-48), logo, as dádivas da igreja têm que ser acentuadamente maiores que o dízimo.

A igreja primitiva tinha esse entendimento, e o Espírito Santo despertou naqueles corações o sentimento da generosidade, e entre eles não havia necessitados, porquanto os que possuíam bens, vendendo-os, traziam os valores correspondentes (At 4.34), ou seja, traziam 100% do valor. Por definição, esse percentual não se refere ao dízimo mas à dádiva. Como importante exemplo dos primeiros cristãos, o Espírito Santo deixou registada, para o nosso ensino, a dádiva de Barnabé, que, “como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos” (At 4.37). Portanto, ele deu tudo o que possuía.

Nunca é demais lembrar o exemplo dos cristãos da Macedônia, que, em meio a muitas tribulações e profunda pobreza deram tudo o que tinham, com alegria, porque primeiramente tinham se dado ao Senhor (2 Co. 8.1-5).

Mais recentemente, temos o exemplo dado por William Colgate, que, quando criança, tornou-se membro de uma igreja em Nova Iorque, e, ainda menino, propôs dar ao Senhor 10% de tudo quanto ganhasse. Ao progredir em seus negócios ele passou a ofertar 20%, e na mesma medida em que o Senhor o fazia prosperar ele aumentava as suas dádivas, passando para 50% e assim sucessivamente, até chegar ao final da sua vida ofertando 100% de tudo o que recebia, porque o seu império multinacional (Colgate-Palmolive) dava-lhe todas as coisas que precisava. O Senhor honrou a fidelidade daquele menino e o transformou em um dos homens mais ricos do mundo.

Mesmo em nosso meio existem muitos exemplos de servos que se propuseram a dar tudo ao Senhor. Um destes, quando era ainda bem jovem, reunia-se em uma pequena igreja em uma cidade do interior e, para cobrir as suas despesas, trabalhava numa empresa. Apesar de ganhar muito pouco ele resolveu investir na obra do Senhor e começou a ofertar suas dádivas na proporção de 10% sobre o seu salário e começou a perceber que o Senhor Se agradava da sua fidelidade e cuidava dele. Aumentou as suas dádivas para 20% sem nenhuma perda. Esse processo continuou até que chegou a dar 80% da sua renda para a obra missionária. Para poder entregar as suas dádivas ao Senhor, durante um bom período da sua vida ele só comia ovos fritos, cozidos e mexidos, porque eram mais baratos. Com isto ele aprendeu tão bem a dar, que um dia resolveu dar tudo. Ele entregou os seus bens e a sua vida para serem consumidos, em tempo exclusivo em prol da gloriosa obra missionária.

Que diremos à vista destes exemplos? Não há a menor dúvida de que Barnabé, os crentes da Macedônia, Colgate, o irmão há pouco mencionado, e tantos outros, passaram a dar tudo porque se libertaram da escravidão da lei, tendo plena compreensão da supremacia desta atual dispensação, a da igreja, que em tudo é superior à anterior. Se continuassem presos ao legalismo do dízimo, jamais chegariam aos 100% das dádivas.

Portanto, qual é o ensino para a igreja a respeito das nossas dádivas ao Senhor? Quanto devemos ofertar? O Novo Testamento é bastante explícito acerca dessa nova proporção e jamais afirma que ela tem semelhança com o dízimo, pois, perante a dádiva, o dízimo torna-se insignificante. A nova proporção tem a ver com a imensidão da graça que recebemos:

- Conforme as nossas posses (At 11.29).
- Acima das nossas posses (2 Co 8.3).
- Conforme a nossa prosperidade (1 Co 16.2).
- Com liberalidade (2 Co. 9:13).
- Na proporção da nossa fé (2 Co. 9:7).

Não nos deixemos enganar, libertemo-nos dos grilhões do antigo legalismo e sejamos voluntários, generosos e abundantes em nossas dádivas ao Senhor, porque Deus não Se deixa escarnecer, com Ele não se brinca (Gl 6.7-10); a nossa omissão revela falta de amor (1 Jo 3.17), e sem piedade a nossa fé por si só é morta (Tg. 2.14-18).

Portanto, amados irmãos, não nos prendamos à compulsão da Lei, mas correspondamos ao amor de Deus na medida em que ofertamos liberalmente as nossas dádivas, com alegria e sem constrangimento, porque Ele ama a quem dá com alegria (2 Co. 9.7). Permita Deus que assim seja!

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