|
![]() |
|
|
I Co 11:2-16.
I. INTRODUÇÃO.
Abordaremos, neste estudo, um assunto no qual a grande maioria de nós, de uma ou outra forma, não anda em conformidade com a Palavra de Deus: AUTORIDADE. É lógico que para que haja ordem e segurança em um país, um lar, uma escola, uma igreja, uma empresa e, até mesmo, numa disputa esportiva, tem que haver uma autoridade. Sem autoridade o que resta é a anarquia geral.
Numa das fases mais negras da história de Israel duas vezes a bíblia registra: "Naqueles dias não havia rei em Israel: cada qual fazia o que achava mais recto" (Jz 17:6; 21:25). Na ausência de autoridade o resultado é a falência da estrutura social. O lema da nossa bandeira é: "Ordem e Progresso". Pois bem, sem autoridade não é possível nenhuma das duas. É preciso autoridade para manter a ordem que é essencial ao progresso.
"Mas nós não somos deste mundo, somos cidadãos do céu", diriam alguns. "Este governo é corrupto e está entregue ao príncipe deste mundo", diriam outros. E se fossemos desfiar o rosário de "justificações" para não obedecermos às leis do nosso governo gastaríamos boa parte do nosso tempo nisso. Contudo, o que a Bíblia realmente diz a respeito da obediência a autoridade? Como Jesus e os apóstolos se comportaram nesta área? Quais as orientações que eles nos deixaram neste sentido? é isso que passaremos a ver daqui por diante.
II. JESUS E AS AUTORIDADES DO SEU TEMPO.
Jesus, aquele a quem em tudo devemos imitar, veio ao mundo em uma época difícil. O seu país estava sob o domínio do poderoso Império Romano e muito dos direitos de cidadãos do seu povo não eram respeitados. César era o soberano senhor de um vasto império e mantinha o poder com mão de ferro. Além disso as autoridades religiosas do seu país haviam se corrompido a tal ponto que foi preciso Ele fazer uma "limpeza" no templo expulsando os camelos e os cambistas de lá.
Contudo, por pelo menos duas vezes, Jesus defrontou-se com momentos decisivos na área de submissão a autoridade. A primeira delas foi quando os cobradores do imposto do Templo confrontaram a Pedro perguntando se Jesus pagava ou não o imposto das duas dracmas (Mt 17:24-27). A segunda foi quando alguns espertalhões, que o queriam pegar em cilada, lhe perguntaram se era certo ou não pagar imposto a César (Mt 22:15-22; Mc 12:13-17; Lc 20:20-25).
Na primeira ocasião Jesus disse a Pedro que fosse ao mar e lançasse o anzol, pois no primeiro peixe que ele fisgasse teria uma moeda de valor suficiente para pagar o imposto de Jesus e o dele. Na segunda ocasião a resposta dele foi: "Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus". Ou seja, ao filho de Deus é certo pagar imposto ao Estado. Mas a autoridade do Estado não é ilimitada, acima dele está Deus. O Deus que a tudo vê e conhece o coração de todos os homens. Até mesmo o de César! A César o imposto; a Deus, e somente a Ele, a adoração.
Atentar para o verbo grego usado por Jesus, nos ajudará a entender a força e o sentido do mandamento do Senhor. Ele usou o verbo apodote (de apodidomi - que significa: dar o que é devido; devolver; pagar de volta; entregar) em lugar de dounai (de didomi - que significa simplesmente dar). Os três evangelistas usaram a mesma palavra, significando assim que temos uma obrigação tributária para com o estado.
Quando caiu nas mãos das autoridades judaicas que o entregaram para as autoridades romanas, Jesus não questionou o seu poder, aliás o seu abuso do poder. Porque Ele não fez isso? Creio que a sua resposta a Pilatos nos ajuda a entender a sua atitude aparentemente apática. Pilatos lhe disse que tinha autoridade para matá-Lo ou para livrá-Lo da morte. Então Jesus lhe disse: "Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada" (Mt 22:37). Ou seja, Jesus sabia que acima de Pilatos, acima do Império Romano estava aquele que tem o controle total da situação, Deus. Pilatos estava no poder porque Deus, por mais contraditório que pareça, o havia colocado ali.
Assim sendo, podemos notar que até mesmo aquele que tem todo o poder no universo, o Senhor Jesus, quando se fez homem respeitou e obedeceu a lei dos homens.
III. PEDRO E PAULO E A OBEDIÊNCIA AO ESTADO
Leiamos Romanos 13:1-7 e I Pedro 2:13-19.
1"Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não procede de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. 2De modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. 3Por que os magistrados não são para temor quando se faz o bem, e sim, quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor dela; 4visto que a autoridade é para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. 5É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. 6Por esse motivo também pagais tributos: porque são ministros de Deus, atendendo constantemente a esse serviço. 7Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra" (Rm 13:1-7 - grifos acrescentados).
13"Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor; quer ao rei como soberano; 14quer às autoridades como enviadas por ele , tanto para o castigo dos malfeitores, como para louvor dos que praticam o bem. 15porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; 16como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus. 17Tratai a todos com honra, amai aos irmãos, temei a Deus, honrai ao rei.
18Servos, sede submissos, com todo o temor aos vossos senhores, não somente aos bons e cordatos, mas também aos perversos; 19porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus" (12:13-18 - grifos acrescentados).
Tanto Pedro, como Paulo, usam o mesmo verbo para transmitir a idéia de sujeição (upotasso: sujeitar-se, estar subordinado ou sujeito a; submeter-se, colocar-se debaixo de). Os dois, assim que iniciam o assunto, usam o mesmo verbo. Este é o verbo principal dos trechos e é com esta idéia em mente que devemos procurar entender o contexto das exortações.
Primeiramente, atentemos para as exortações de Paulo:
É importante o facto de Paulo também ter usado o mesmo verbo que Jesus usou para expressar o nosso dever. Diz ele: "Pagai a todos..." (apodote - de apodidomi - que significa: dar o que é devido; devolver; pagar de volta; entregar). É como se ele estivesse fazendo eco as palavras do Senhor: "Dai a César o que é de César..." (Mc 2:17).
Em segundo lugar, atentemos para as exortações de Pedro:
Há uma série de exortações curtas que resumem o comportamento do cristão em todos os círculos de relacionamentos: o Amar aos irmãos; o Temer a Deus; o Honrar ao rei.
O nosso dever não é só para com a autoridade boazinha, mas também para com as não tão boas assim (v. 18). Quando, por causa da nossa consciência para com Deus, sofremos injustiças, isto agrada a Deus (v. 19). Tendo visto estas verdades, façamos agora uma conclusão e aplicação para a nossa vida diária.
![]()
IV. CONCLUSÃO.
Em I Timóteo Paulo diz que é nosso dever orar em favor das autoridades (2:1,2). Também em Tito ele diz: "Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra" (Tt 3:1). Vemos então que esta questão é bem discutida pela Palavra de Deus, chegando ao ponto de não deixar sombra de dúvida quanto a nossa atitude para com as autoridades.
É muito importante saber que, na época destas cartas, o imperador era o sanguinário Nero. Um homem que foi extremamente cruel para com os cristãos. E os Apóstolos diziam que ele tinha sido instituído, por Deus, como Imperador e que, como tal, devia ser honrado. Qual é o segredo para entender isso? A resposta mais acertada, ao meu ver, é que eles criam que por trás dos acontecimentos da história humana havia um Deus que é soberano e que usa até mesmo os tiranos para os seus propósitos gloriosos. Ou seja: Deus controla tudo, nada foge ao seu propósito. Acima de Nero estava o Todo Poderoso.
Mas qual é o limite da nossa obediência as autoridades? Também na Bíblia aprendemos o seguinte: "Então Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes importa obedecer a Deus do que aos homens" (At 5:29).
Tanto Jesus, bem como Pedro e Paulo, não estavam alheios ao comportamento desonroso das autoridades; e mesmo assim eles nos exortam a obedecê-las. Só podemos desobecê-las quando elas exigirem de nós aquilo que é devido a Deus (no caso dos cesares a adoração), ou quando quiserem nos impedir de propagar o evangelho de Jesus Cristo. A nossa "desobediência", então, será somente nestes dois aspectos: Não dividir nossa adoração a Deus com o estado, e não deixarmos de propagar o evangelho. No mais devemos continuar cumpridores dos nossos deveres cívicos e obedientes as leis que não vão frontalmente contra a Lei de Deus.
Os direitos de César (do poder) são limitados, na verdade ele tinha uma licença de Deus para actuar no mundo como autoridade. Contudo a lealdade do cristão é, primeiramente para com Deus. Se César (o poder) o quiser levar contra Deus, o cristão esta desobrigado da lealdade ao imperador - primeiro Deus, depois César. A César o que é de César (obrigações civis), a Deus o que é de Deus (adoração).
Quanto ao facto do governo ser ou não corrupto, de usar bem ou não o dinheiro dos impostos, devemos entregar a Deus. Assim como nos prestamos contas dos nossos atos, chegará o dia em que cada presidente, vereador, cada governante, cada deputado, cada ministro prestará contas dos seus actos ao Imperador absoluto do universo, o Grande Deus Jeová. A nós cabe obedecer a Palavra de Deus e esperar pela sua justiça, pois assim como Ele levanta reis, Ele depõe reis; assim como ele elege autoridades, Ele muda governos. A Ele pois toda glória por toda a eternidade.
|
|