1.7. A juventude na origem do movimento

 
História do chamado movimento de «Irmãos»

Fonte

Texto: Rui Oliveira
In Refrigério n.º 67

Falar da Juventude é tarefa árdua para quem já por lá passou, mas que ainda não conseguiu o distanciamento necessário para poder pronunciar-se com imparcialidade, ponderação e segurança.... Bem-aventurados os que podem ter saudades da sua juventude.

...Numa coisa coisas estaremos todos de acordo: a Juventude é a fase da vida em que as nossas capacidades estão no auge. Temos força, saúde, optimismo, dinamismo, curiosidade, inconformismo, criatividade, dispo-nibilidade, generosidade, tolerância, que com o tempo vamos perdendo. Não é por acaso que nesta altura o indivíduo é mais solicitado, aliciado, instrumentalizado: pelo Estado, pelos agentes económicos, pela sociedade, pelos partidos, pela Igreja, pelo mundo, por Satanás. Todos criticam os jovens, mas servem-se deles para alcançar os seus fins....

...Amados Irmãos, Deus também conhece as potencialidades da Juventude. Ele está interessado não em aproveitar-Se do seu potencial, mas em desenvolver e dar sentido às capacidades dos jovens, fazendo-os sentirem-se úteis e pessoalmente realizados. Deixemos que Deus use os nossos jovens. Não os impeçamos, não os manietemos. Não nos sirvamos deles apenas para decorar as nossas casas de oração, para dar colorido às reuniões, obrigando-os a estarem sempre presentes, mas sem qualquer actividade que desenvolva os seus dons e os faça sentirem-se membros efectivos do Corpo de Cristo. Deus usa os jovens e não quer deixar de usar os mais velhos.

Pensemos nos discípulos de Jesus. Eles eram jovens, alguns bastante jovens. Era impensável naqueles dias que o mestre fosse muito mais novo que o discípulo. Mateus e Marcos dão-nos conta que Tiago e João, quando foram chamados pelo Senhor Jesus, estavam no barco com o seu pai consertando as redes e deixaram-no com os empregados e seguiram Jesus. (Mt.4:21,22; Mc.1:19,20). Ora, concluímos que João e Tiago eram jovens, seu pai ainda trabalhava na faina árdua da pesca. seria relativamente novo e eles ainda não estavam estabelecidos por conta própria. Por outro lado, mais tarde vemos-los tutelados por sua mãe pedindo a Jesus que os distinga no Seu Reino (Mt.20:20). Estes jovens eram companheiros de Simão Pedro (Lu.5:10) por isso, deviam ter idades próximas. As várias contendas entre os discípulos sobre qual deles parecia ser o maior, (Mt.18:1; Lu.9:46; Lu.22:24), mostram preocupações próprias da idade, revelam imaturidade e deixam pentender que não havia nenhum que se destacasse pela sua maturidade ao de ser incontestavelmente reconhecido como lider "o maior". Mas foram jovens assim, imaturos, indisci-plinados, egoístas, que Jesus escolheu para serem Seus discípulos e comtinuarem a Sua Obra, levando o Evangelho a todo o Mundo de então.

Também Paulo reconheceu as potencialidades da Juventude. Timóteo, Marcos e Tito são apenas três exemplos (1Tim.4:12; At.12:12,25; Col.4:10; 2Tim.4:11; Flm.1:24; 1Pe.5:13; 2Co.8:23; Tt.1:4). Paulo soube aproveitar os talentos desses jovens para o engrandecimento da Obra do Senhor. Ele confiou-lhes missões e responsabilidades que causariam hoje muita controvérsia na maioria das nossas Igrejas. Paulo mandar o jovem Timóteo para nos exortar? (1Tim.1:3-11) E Tito para eleger anciãos entre nós? (Tt.1:5) Impensável! Ó Paulo, tu deliras! Ele teria forte oposição de muitos de nós que não queremos deixar os nossos jovens trabalharem para o Senhor.

Mas como surgiu o nosso movimento?

Foram mais uma vez os jovens que estiveram na linha da frente. Que pagaram o preço da sua ousadia. Lutaram e venceram porque usaram as armas da Justiça e o estandarte do nosso Deus. Foram homens como Antony Norris Groves, John Nelson Darby, Henry Craik, George Müller, John Clifford Bellet, John Vesey Parnell, Eduard Cronin e muitos outros, que na sua juventude buscaram ao Senhor de todo o coração.

Müller e Craik começaram a dar apoio a duas congregações independentes de Bristol a pedido dos crentes locais. Aceites que foram as condições impostas pelos dois pregadores, o seu trabalho ali tornou-se regular e com resultados espirituais nunca antes imaginados. As condições que Müller e Craik apresentaram às igrejas para que não ficassem más impressões, foram:

1) Queremos que nos considerem como dois irmãos entre vós e não como dois "pastores" para que possamos pregar livremente, segundo o que pensamos ser o propósito do Senhor.

2) Não ter em conta qualquer regulamento que possa existir entre os crentes.

3) Que a prática de aluguer de bancos como fonte de receitas fixas seja cancelada.

4) que possamos continuar a depender do Senhor para suprir as nossas necessidades temporais, conforme temos feito até agora no condado de Devon.

Em pouco tempo novos grupos de crentes surgiram em várias cidades, estudando a Palavra de Deus com toda a simplicidade, comemorando a Ceia do Senhor, sem liturgias artificiais, na liberdade que há em Cristo e guiados apenas pelo Espírito Santo. Este movimento imparável, não se quedou na Grã Bretanha e Irlanda. Ele avançou pelo continente europeu. O próprio Darby seguiu para a Suiça, depois para a França, passou em Portugal, no Porto, rumo às Antilhas e à Guiana Inglesa.

Foram estes homens, não depois de serem velhos mas enquanto eram jovens, sem desperdiçar as suas energias, que fizeram com a ajuda de Deus esta grande Obra.